Sindicato do Comércio Varejista, Atacadista e Distribuidor de Peças e Acessórios para Veículos e Comércio Varejista de Veículos no Estado do Paraná
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Desabastecimento de autopeças persiste três anos após a pandemia

“Quem disser que não está faltando peça, está mentindo”. A afirmação, forte, foi feita à nossa reportagem por uma importante fonte da indústria de componentes automotivos. Nas últimas semanas, temos ouvido informações contraditórias sobre este assunto tão importante para o bom andamento dos negócios no Aftermarket Automotivo. E, conforme íamos nos aprofundando no debate, mais percebíamos uma certa insegurança de algumas pessoas para falar sobre o tema. Afinal, está ou não havendo desabastecimento além do normal no mercado, movimento que ganhou força em razão da hoje já superada pandemia da covid-19? Parece que já faz muito tempo. Mas a quase-paralisação da cadeia produtiva mundial causada pela crise sanitária global aconteceu há menos de quatro anos. Para quem atua no Aftermarket Automotivo, a proximidade temporal com este período de exceção, somada às profundas transformações que ele promoveu, pode ser sentida em um problema que tem se mostrado recorrente desde então: o desabastecimento de autopeças.

Realizada com exclusividade pelo After.Lab, núcleo de inteligência de mercado da Nhm Novomeio Hub de Mídia, a pesquisa ONDA – Oscilações nos Níveis de Abastecimento e Preços tem medido semanalmente este cenário desde que foi decretada a emergência global e, é claro que o estudo detecta aquele residual que os fornecedores do varejo não conseguem entregar, o que é absolutamente normal no mercado, sempre foi assim. No entanto, desde janeiro, além dos índices negativos por vezes muito elevados, temos ouvido constantemente queixas de uma quebra no abastecimento maior do que a esperada.

Em sua última apuração até o fechamento desta edição, que contemplou a semana de 4 a 8 de março, o levantamento ONDA mostrou queda de 4,53% na média nacional do abastecimento, índice que sucedeu os ainda maiores 5,08%, exorbitantes 13,41% e 6,58% nas semanas anteriores. Um dos efeitos lógicos a serem esperados neste ambiente de escassez é, claro, o aumento dos preços dos produtos, algo que a ONDA também tem constatado de maneira recorrente. Desde outubro de 2023, os varejistas de autopeças do país não experimentaram um só mês em que os preços dos produtos não tivessem subido.

É fato, afinal, que o cenário identificado pelos pesquisadores do After.Lab está sendo sentido na pele por alguns players do mercado, sobretudo aqueles que transitam entre a distribuição e o varejo – caso da Rocha Autopeças, de Campinas-SP. Em conversa com nossa reportagem, o proprietário da empresa, Roberto Rocha, afirmou que a falta de peças é algo generalizado no momento. Segundo ele, o problema não é exclusividade de um fabricante ou outro, já que todos têm apresentado faltas e, quando se recorre a um outro fabricante para suprir uma lacuna, a estratégia acaba promovendo um descompasso na produção do ‘fabricante alternativo’, corroborando para uma falta futura também desta marca. “Esta semana, conversando com um distribuidor, fui informado de que eles estão bloqueando no sistema dar descontos em itens que estão em falta ou que a fábrica avisou que não vai entregar por um determinado período. Isto pode gerar um aumento de 10% no custo de um produto, refletindo na ponta diretamente”, relatou o empresário, antes de complementar com mais um acontecimento prático: “Tive um exemplo claro esses dias com uma embreagem que consegui comprar num dia por um preço e, no dia seguinte, o vendedor avisou que tinha recebido mais 40 peças, me perguntando se eu queria.

Na soma das duas primeiras semanas do mês de março, por exemplo, os preços médios das autopeças subiram 3,56%, alta que sequenciou uma elevação robusta de 8,49% na última semana de fevereiro. E aqui vale a mesma ressalva que fazemos sempre nas páginas finais de cada edição: esta não é necessariamente uma apuração científica, pois resultada percepção dos varejos entrevistados. Assim, as oscilações para mais ou para menos são adotadas por nós com meros indicadores de tendência muito além dos índices propriamente relatados.

Quando ele tentou passar o pedido, acabou não conseguindo fazer pelo mesmo preço. Achei caro e optei por não comprar, mas, no dia seguinte, ele avisou que as peças tinham sido vendidas todas pelo preço 10% acima do que ele havia me passado em razão da carência do mercado”. Apesar da consistência dos números da pesquisas ONDA e dos relatos da vida prática do mercado feitos por Roberto Rocha, é necessário dizer que nem todos os players do mercado confirmam o cenário de escassez. Dentre aqueles que conversaram com nossa reportagem a respeito do assunto, a distribuidora Cobra e o atacarejo gaúcho Ramos e Copini negaram estarem enfrentando dificuldades neste aspecto. Nuances do relato do proprietário da segunda, porém, indica que suas equipes de compras estão tendo de usar a criatividade para driblar obstáculos no caminho. Segundo Flávio Ramos, a empresa tem explorado diversas marcas para manter o estoque preparado para as demandas do mercado. Outras empresas que têm na importação o principal core de seus negócios – provavelmente as mais afetadas pelo problema –, caso da Luporini, preferiram não se manifestar sobre o assunto quando procurados pela nossa reportagem.

Greves agravam desabastecimento no país

Embora seja um problema intermitente desde 2020, ano em que eclodiu a pandemia da Covid-19, o desabastecimento de autopeças – de acordo com números da pesquisa ONDA – está vivendo em 2024 alguns de seus momentos mais insistentes e agudos, movimento que, na verdade, começou ainda em dezembro do ano passado. Ao observarmos o quadro de uma maneira conjuntural, isto é, expandido a análise para outros segmentos cujas importações também desempenham papel fundamental, é possível fazer uma associação direta entre o desabastecimento de peças em âmbito nacional e pelo menos três greves significativas de categorias ligadas ao comércio exterior no último quadrimestre. A primeira – e talvez a principal delas – foi a paralisação dos Auditores Fiscais da Receita Federal. Entre novembro de 2023 e o dia 8 de fevereiro deste ano, os servidores da categoria paralisaram suas atividades para pleitear um reajuste chama – do de ‘bônus de eficiência’, causando uma morosidade incomum na entrada de produtos no país. Em uma análise sobre os impactos do movimento, o Instituto Brasileiro de Comércio Internacional e Investimentos (IBCI) o apontou como causa de casos de desabastecimento em diversos segmentos da indústria. Isso porque, segundo o IBCI, as cargas passaram a levar quatro vezes o tempo usual para serem liberadas dos embaraços aduaneiros. Outro ponto que contribuiu para a maximização do impacto negativo da mobilização dos auditores sobre a celeridade da liberação das importações foi o timing escolhido para o movi – mento. Novembro, por exemplo, é um mês tradicional para a realização da Black Friday, período em que as compras B2C são intensificadas.

A segunda greve a impactar diretamente a indústria brasileira foi a dos trabalhadores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), iniciada no último mês de janeiro. Dentre outros segmentos, o movimento impactou diretamente as montadoras de automóveis que não possuem fábricas ativas no Brasil – casos de BYD, Volvo, Kia e Mercedes. De acordo com apuração da Folha de S. Paulo, a greve causou o represamento de mais de 30 mil veículos nos pátios devido à espera das liberações do órgão. Ainda no escopo das greves, pesa uma terceira, possivelmente ainda mais relevante para o mercado de autopeças: a dos portuários. Iniciada no fim do último mês a greve reivindica que todos os trabalhadores que operem em funções como capatazia, estiva, conferência e conserto de carga, entre outras, tenham de ter como obrigatório no Órgão Gestor de Mão-de-Obra (Ogmo), administrado pelos Operadores Portuários.

Vista como crucial para a salvaguarda dos direitos dos profissionais do setor por seus respectivos sindicatos representativos, a pauta já mobilizou mais de 27 mil trabalhadores e tem tido como resultado direto o atraso de navios em portos como o de Santos. Um dos exemplos dos impactos causados pelo impasse junto à categoria foi aferido por meio de estudo logístico realizado pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil. Segundo a entidade, os atrasos de porta-contêineres que transportam café atingiram a marca de 85% no início deste ano.

Desabastecimento é realidade global

Os problemas conjunturais brasileiros certamente têm afetado o abastecimento de autopeças, conforme registrado pelo After.Lab. É importante notar, no entanto, que a cadeia global como um todo não apenas não equacionou ainda o processo de reorganização das relações comerciais e cadeias produtivas resultante da pandemia da covid-19, como também tem sofrido impactos diretos de conflitos regionais, como a Guerra da Ucrânia.

Em reportagem veiculada pelo tradicional veículo britânico ‘The Guardian’ a ‘National Body Repair Association’ (NBRA), principal organização do Reino Unido no âmbito do Aftermarket Automotivo, afirmou que os motoristas do país estão tendo que esperar uma média de cinco semanas a mais do que a média pré-pandemia para reparar seus automóveis. O problema relatado pela NBRA foi confirmado pela Associação das Seguradoras Britânicas que justificaram os atrasos para atender seus clientes com o seguinte relato: “Tal como muitos outros setores, as seguradoras de automóveis enfrentam desafios significativos devido à inflação, à perturbação da cadeia de abastecimento e à escassez global”. Além do Reino Unido, outro mercado que tem se queixado da falta tanto de componentes quanto de matérias-primas para fabricá-los é os Estados Unidos. Segundo o centro automotivo californiano ‘Cline Collision Center’, o mercado não se recuperou desde 2020 e, em razão dos efeitos já mencionados, como a pandemia e a guerra ucraniana, “muitos fabricantes de peças tiveram problemas para adquirir matérias-primas usadas em autopeças, como aço, espuma, plástico e silício”. “Até mesmo os aditivos no óleo de motor têm sido mais difíceis de obter”, acrescentou o estabelecimento. Como se sabe, o mercado asiático é um dos principais fornecedores globais de autopeças e matérias-primas para esses componentes. Por este motivo, estudos sobre a indústria de autopeças como o divulgado pelo Krungsri, um dos maiores bancos tailandeses, ganham relevância global. No documento, nomeado “Industry Outlook 2023-2025: Auto Parts Industry”, os especialistas da instituição financeira projetaram uma escassez persistente até meados de 2024 – sobretudo no que diz respeito a componentes tecnológicos como chips e semicondutores. Ao que tudo indica, o assunto não se encerra por aqui.

Fonte: Novo Varejo

Por Lucas Torres

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